maoescrever.gif (1123 bytes)                          HISTORIAL                           Menu

          Disse Armando Castela que o Orfeão de Águeda, apesar de ter nascido sob o signo da guerra, foi sempre um espaço de paz e fraternidade. Em 1916, Portugal acaba de entrar na grande guerra mundial e logo em reunião na Câmara Municipal se constituirá a Comissão Patriótica das Senhoras de Águeda, liderada pela Condessa-Mãe da Borralha, com o fim de minorar a situação das familias dos soldados mobilizados e do Corpo Expedicionário Português. Em época de extrema penúria, todos participam. A guerra estava presente no quotidiano de Águeda. O novo edificio, construido pelo Conde Sucena para albergar o Hospital, é cedido pelo benemérito ao Exército que aí instala o Sanatório Militar de Águeda, por onde passarão 200 soldados gazeados e estropiados.

          A Armando Castela a Comissão solicitou a preparação de uns coros para uma récita de angariação de fundos. E asssim nasce o Orfeão de Águeda, sob o signo da guerra. Em Outubro já a nova agremiação faz o seu ensaio geral, mas é só a 6 de Janeiro de 1917 que o Orfeão se apresentou, pela primeira vez, ao público de Águeda e ao serviço da cruzada de paz e fraternidade. No salão da R. José Maria Veloso, no Teatro Fernando Caldeira, os 54 rapazes do Orfeão - inicialmente masculino - esmeraram-se num espectáculo que "causou no público uma grande surpresa, agradável surpresa manifestada em fortes aplausos". Além de uma comédia e números musicais em que intervieram os amadores Maria Ester Camelo, Magda Castela, Branca Rocha, Júlia Carneiro, Ilda Costa, António Serrano, Arsénio Castilho, José Guerra, Serafim Pereira e António Costa, o Orfeão interpretou As Canções Transmontanas de Pinto Ribeiro, Hino à noite de Beethoven, Coral de Bach, Coro dos Caçadores de Weber e As Camponesas de Fernando Caldeira.

          Com o êxito obtido, que se repete no dia seguinte, o Orfeão consolida-se, Armando Castela, esse elevado espirito de homem, cidadão e artista, desejava que a agremiação fosse uma escola para a sociedade aguedense, balisada na tolerância e na  fraternidade, de mãos dadas lutando contra a violência, a miséria, o analfabetismo, verrumando rotinas e comodismos e despertando as consciências. Os coralistas vinham do mundo do trabalho e abnegados como são, em especial da Fábrica do Outeiro, trabalhadores por conta de outrém, a que se juntaram jovens estudantes e professores - os mesmos que haviam de estar em todas, que nessa década e na seguinte animaram a vida social,  desportiva e artistica de Águeda. Armando Castela, mais tarde, salientaria, com alguma vaidade, que, sendoele um homem de Partido, e bem conhecido nas suas posições públicas, no Orfeão coexixtiam sensibilidades de todos os quadrantes políticos, dos mais retrógados aos mais extremistas e "nunca a fraternidade e a união seriam, por isso, molestadas". Uma escola de civismo, pois, a Associação a que Armando Castela deu vida e Espirito!

          Depois houve os colapsos normais, que a situação económica dos anos vinte foi dura para um país desestabilizado por frequentes querelas políticas. E em 13 de Abril de 1930, como que renascendo das cinzas e num período de grande fervor bairrista, o novo Orfeão reaparece com um programa cada vez mais exigente. A juntar aos êxitos de 1917, Armando Castela escolhe um reportório com coros clássicos, o Amen de Berlioz, o Coro dos Barqueiros do Volga, à mistura com corais tradicionais, a Rapsódia de Cantos Populares de António Joyce, o Linho Fresco de Tomás Borba e o Toca-Toca, com música de Pinto Ribeiro e versos de Adolfo Portela.

          E assim continuaria pelos anos fora, com altos e baixos, o Orfeão de Águeda na sua cruzada de civismo e beneficência, multiplicando espectáculos, preocupando-se com o bem estar dos seus associados - numa palavra: fazendo vivas as aspira´ções do seu mentor. E ao Orfeão de Águeda se ficará a dever, e não é mérito de menos relevância, a animação cultural em décadas contínuas, trazendo à tona todo o património ao levar à cena peças de autores aguedenses: A Noiva de João de Adolfo Portela, em 1945, Frei António de Águeda, em 1921 e Do Barril à Venda Nova, em 1934, ambas de Serafim Soares da Graça, O Marquês do Botaréu de Ângelo Meneses em 1925, e entre outras, as Águas do Botaréu, em 1946.

          Actualmente, a actividade do Orfeão de Águeda movimenta-se através do seu Grupo  Coral e do Grupo de Teatro. Tem-se destacado em diversas realizações e participações culturais, nomeadamente em vários encontros de coros efectuados no país , sendo de realçar as seguintes actividades:

          - Participou em duas missas dominicais transmitidas pela RTP, uma delas em directo para a República Popular de Angola.

          - Em 1996, a convite da editora Public-Art participou na gravação "Os Melhores Coros Amadores da Região Centro"

          - Em 1997 organizou o III Encontro de Coros da Bairrada.

          - Em 1998, participou na gravação do CD "Um amor de 20 Anos", editado pela Cergiag.

          - Já em 1999 fez a homenagem ao Sr. Henrique Ramos (pelos seus 80 anos a cantar no Orfeão)

          Pelo Orfeão de Águeda, passaram maestros e coralistas figuras que a nossa memória exalta, reconhecida, os de primeira água, como Armando Castela e Neca Carneiro, e muitos, muitos outros, humildes e anónimos, que deram corpo e rosto co construir de outras associações como os Bombeiros, Recreio Desportivo, Ranchos Folcolóricos e outras Associações que  escreveram as páginas da história da nossa terra.

                                                                 

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